A Comissão Europeia anunciou um pacote de 145,5 milhões de euros para reforçar a cibersegurança na União Europeia, com foco nas pequenas e médias empresas (PME) e no setor da saúde, dois dos segmentos mais vulneráveis a ataques digitais. A medida foi amplamente saudada por empresas do setor tecnológico, incluindo a Check Point Software Technologies, mas não sem reservas.

Para a fornecedora israelita de soluções de cibersegurança, cotada na NASDAQ, o valor agora comprometido só terá impacto real se for canalizado para soluções comprovadas e aplicado de forma estratégica e focada.

“A Check Point congratula-se com o investimento da Comissão Europeia no reforço da cibersegurança, sobretudo pelo foco em empresas de menor dimensão e no setor da saúde – dois segmentos críticos que continuam altamente vulneráveis”, afirmou Peter Sandkuijl, Vice-Presidente de Engenharia da Check Point para a região EMEA. “Contudo, 145 milhões de euros, apesar de positivos, serão insuficientes se não forem utilizados com foco e rigor.”

Setor da saúde permanece sob ataque constante

Dados recentes do Relatório Europeu de Inteligência de Ameaças da Check Point ilustram bem o nível de risco: nos últimos seis meses, registaram-se em média 1.986 ataques semanais contra organizações de saúde na Europa, num total global de 2.430 ataques por semana. Este padrão revela um setor sob constante pressão, muitas vezes sem a infraestrutura técnica ou humana necessária para responder eficazmente.

Entre os casos mais mediáticos estão o ataque ao grupo hospitalar norte-americano Kettering Health, que resultou na paralisação de 14 hospitais, e o ciberataque à clínica privada russa Lecardo, que expôs dados de 52.000 pacientes, agora à venda na dark web. A campanha de phishing que comprometeu 276 milhões de registos clínicos, disfarçada como comunicação de prestadores de serviços médicos, também acentuou a gravidade da situação.

Uma das componentes mais promissoras do novo programa europeu é a integração de tecnologias de inteligência artificial generativa (GenAI) no combate às ciberameaças. A Check Point destaca a importância desta vertente, sublinhando o papel que soluções como o seu Infinity AI Copilot podem desempenhar na automatização da análise de ameaças, na reforçada aplicação de políticas de segurança e na redução dos tempos de resposta a incidentes.

“A Europa tem uma oportunidade única para liderar na aplicação de IA de confiança à cibersegurança”, afirmou Sandkuijl. “Mas isso exigirá uma colaboração real entre setores e o apoio à inovação já validada, em vez de reinvenções dispendiosas.”

Embora o pacote represente um avanço nas prioridades digitais da Comissão, a Check Point alerta que a execução será determinante para o sucesso da iniciativa. A empresa defende que os fundos devem apoiar não só tecnologias eficazes, mas também a formação de talento especializado, a segmentação de redes críticas e a criação de infraestruturas resilientes capazes de resistir a um panorama de ameaças cada vez mais sofisticado.

Num contexto de crescentes riscos cibernéticos e instabilidade geopolítica, o investimento europeu em cibersegurança representa um sinal político claro. Contudo, como sublinha a Check Point, transformar essa ambição em resiliência concreta dependerá menos do montante e mais da precisão com que for aplicado.